sábado, 20 de outubro de 2012

Faminta

Eu sentei numa cadeira. Tu sentaste de frente pra mim. Insistias em manter um papo política e moralmente correto. Eu mantive as aparências, me entrosei no assunto, dei palpite. Tudo ia bem até que a música do rádio foi mais alta que a tua voz, tu viraste pro lado e eu pude ver teu nariz de perfil. Ok, há chances de eu ser tarada por narizes, mas o fato é que perdi a linha de raciocínio quando vi o teu. A partir daí não quis mais saber de conversa sobre o atual governo, nem sobre o último livro do Galeano, só pensava em... em... e...
Comecei reparando nas tuas mãos, eram grandes, fortes. Teu cabelo parece macio, que vontade de puxar. Não, esse livro eu ainda não li, mas ouvi falar que é muito bom. Que perfume é esse? É teu? Meu deus, quero cheirar esse cangote. Tomo um gole da cerveja, está bem gelada, quer um pouco? Toco a tua pele, como é macia, branquinha, parece feita de leite, vontade de lamber. Tu me perguntas o que estou pensando, invento uma bobagem qualquer, porque eu precisaria de uma dose de tequila pra te dizer a verdade com a maior cara de pau.
Continuamos discursando sobre a crise monetária e agora eu reparo na tua voz, é rouca, estou imaginando tu me dizendo obscenidades ao pé do ouvido. Acho que estou começando a ficar vermelha e acho que tu estás começando a reparar. Tu dás um sorrisinho constrangido, mal sabes que mentalmente já te despi todinho, no mínimo, umas quatro vezes. Eu também odeio essa novela, como pode ser esse o assunto do momento? Não aguento mais, nem as redes sociais estão livres. Eu nem tinha reparado na tua barba, não me contenho, peço pra tocar. É macia, tu passa condicionador nela? Não mente. É muito gostoso de tocar. Gostosa, quero dizer. Fica um clima no ar e eu não sei disfarçar, se antes eu não sabia, agora tenho certeza que estou começando a corar. Vou no banheiro, me olho no espelho, meus olhos entregam o efeito do álcool. Peço por favor ao meu eu bêbada que tenha modos e não ataque sexualmente o homem que está me esperando na sala, ela ri uma gargalhada debochada, acho que não vai adiantar. Sinto que meus hormônios já estão no nível máximo e que, se dentro de dez minutos ele não tomar uma atitude, eu tomo por ele.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Foda-se


Foda-se. FODA-SE. FO-DA-SE!
Foda-se você e sua hipocrisia.
Foda-se você e suas críticas, sua prepotência e sua arrogância.
Foda-se sua falsidade e suas fofocas.
Foda-se seu falso moralismo.
Suas mentiras, suas regras, suas economias, seu dinheiro: foda-se tudo.
Seus olhares reprendedores, seus gritos, suas manias... Foda-se
Fodam-se todos iguais a você.
Foda-se a economia mundial, fodam-se as eleições, a campanha eleitoral, as leituras obrigatórias, foda-se o vestibular, a crise europeia.
Foda-se a minha tireoide.
Foda-se o garçom desse bar, cadê minha bebida? Foda-se essa merda, cancela o pedido, vou beber em outro lugar.