quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Te remendando

Não há sentimento mais angustiante do que ver uma amiga sofrendo de um amor rasgado, descosturado e não poder fazer nada.

Quem nunca sofreu de amor considere-se de castigo por ter mentido, pois todos nós já provamos dessa dor tão amarga e tão grande que fica difícil de engolir. O que fazer com a fratura exposta que há no coração de alguém que eu amo tanto? Não sou médica, não sei que remédios receitar. Não sou costureira, não posso simplesmente pegar linha e agulha e remendar aquele enorme rasgo. Não sou nada profissional, nem tenho receitas miraculosas. Infelizmente.

Dói-me dizer que esse desconforto é irremediável, não se cura, acostuma-se com ele. Nunca vai embora, permanece em nós por meio de dores, lembranças e lágrimas. Um dia de tanto se fazer presente cansa-se, perde as forças, dorme e quando acorda passou-se tanto tempo que a ferida secou, ele não nos perturba mais.

O tempo cura tudo, e não é pecado sentar e esperar. Enquanto isso a vida continua, outras pessoas aparecem, outras desaparecem. Amor quando acaba dói, mas não mata. Já dizia Caio Fernando de Abreu: “Sem apego. Sem melancolia. Sem saudade. A ordem é desocupar lugares. Filtrar emoções." Não preciso dizer mais nada, só que te amo.

sábado, 13 de agosto de 2011

Alma

É nos bares, boates, pubs e afins que a alma se deixa levar. Despe-se por inteiro. O clima é propício, a luz é baixa, no ar o cheiro é de perfume amadeirado misturado com tabaco, a música alta faz arrepiar todinha a alma safada.

Seu jogar de cabelos é sensual. Seu morder de lábios é sensual. O movimento dos cílios é sensual. Sua dança é quase um Strip-tease.

A alma é abusada, a noite é dela, só dela e mais ninguém. Ela conquista cada canudinho do bar, os seguranças, os convidados, as portas. Tudo é dela. No canto, bem discreto, há um placar: Minha alma versus o resto do mundo inteiro. Advinha quem tem mais pontos...

Não sente fome, não sente frio, só sente sede, uma sede do tamanho do mundo. Quer beber os teus pensamentos mais íntimos, os teus medos, os amores que não deram certo, as cóleras, as cólicas, as feridas abertas, tudo que for teu ela quer provar. É melhor se cuidar.

A alma é quase uma hipnose, quase uma miragem. Faz pensar que o que caminha em tua direção é um puma preto. Não é, é ela. Faz imaginar uma música baixinha tocando com uma voz muito doce. Não é, é ela. Faz de conta que sabe fazer efeitos especiais. Não sabe, são os defeitos especiais dela.

Se abre a boca só fala palavras pervertidas: delícia, champanha, aberto, fechado, amasso, perigo, frescor...

O nome dessa tão incrível alma? Maria, Joana ou Tibúrcia talvez. Não sei, ela não se apega a detalhes pequenos.