Sempre soube ser várias, sempre tive muitas dentro de mim, cada uma para apropriado momento, cada uma com um nome e uma profissão diferente. Já fui, uma vez, enfermeira quando disse “deixa que eu cuido desse machucado”, depois fui a causadora de certas doenças psicológicas, tal como loucura, já fui aluna quando disse que queria aprender e outrora fui professora quando disse que iria ensinar, já fui submissa quando disse “eu faço tudo o que tu quiseres”, mas também já fui a líder quando disse “hoje sou eu que mando”, já fui amante e fiz amor na hora do almoço, já fui traída, descobri e perdoei e já fui a traidora, dizendo mais tarde ao corno que havia errado muito e pedindo desculpas. Já fui a dona das verdades, mas não lembro qual verdade decidi dizer naquele dia, fui também a dona das mentiras, dizendo a um certo homem a palavra “para sempre” e quando neguei certas coisas em minha vida e todas as vezes que menti meu nome quando convinha. Já fui o perigo em carne e osso, quando me deparei com um homem com medo e disse-lhe “calma, eu sou o perigo e nesse exato momento não vou te fazer mal algum”, já fui ilícita e fiz coisas fora da lei, já fui certa e não aceitei propostas indecentes, já fui negociante e estive aberta à negociações, fui vendedora e vendi alguns amores do meu passado, já fui inocente e fingi que não entendi, já fui depravada e vi segundo sentido em tudo, já fui DJ e ditei o ritmo, já fiquei na pista dançando conforme a música, fui bombeira uma vez que apaguei fogo, fui política todas as vezes que prometi e não cumpri, fui lady e tive motorista particular, fui juíza e dei minha sentença, fui o réu e recebi a sentença, fui do céu ao inferno e ninguém acredita que existam tantos eus dentro de mim.
domingo, 28 de novembro de 2010
Várias dentro de mim
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Meus "nãos" dissertativos
Não me olhes, que não estou sempre bela, não me cuide, que disso já estou saturada, não me julgues, pois conheço as conseqüências dos meus atos, não cria esperança, que sou inconstante, não te jogues nos meus braços, que tenho bons reflexos, não corra atrás de mim, que eu odeio brincar de pega-pega, não me diga datas, que eu não costumo usar o calendário, não me ponha rédeas, pois sou um cavalo selvagem, não me ponha limites, pois sou uma desobediente, não me diga o que devo fazer, pois farei totalmente o contrário, não me tire pra dançar se não vai agüentar o meu ritmo, então não me beije se não vai me entregar tua boca quando eu precisar, não faça tudo que eu mandar, nem se eu pedir, que eu adoro ouvir um não, não me dá a mão, que eu entro em pânico, não me promete futuro, que o futuro demora, não me lembre do passado, pois eu tenho amnésia seletiva, não me pergunte se eu quero, que eu demoro para responder, não me conte tuas peripécias, que amanhã não vou lembrar nem teu nome, não me dê dicas, que esse papel é meu, não tente me impressionar, não costumo notar, não deite o meu banco para trás, que sou eu que mando, não me convide pra ver o pôr-do-sol, que eu quero é saltar de pára-quedas, não mude por mim, que sou distraída, não me pergunte as novidades, que sou desatualizada, não me ponha prazos, que não trabalho sobre pressão, não tente me deixar curiosa, porque justamente não o sou, reconheça então cada sorriso meu, e isso bastará.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Versos inadimplentes
O arrependido
Sentado pensando na vida
Nas possibilidades perdidas
Vagando entre loucura e certeza
Parado.
Sentado naquele banco
Esfriando os meus problemas
Tentando achar um caminho
E lendo meu jornal ao mesmo tempo.
É incrível o tamanho do arrependimento
Quando lembro de tudo que perdi
Seria melhor nem ter ganhado
Do que ser chamado de desgraçado.
O que faço eu agora?
Fico, junto ou vou embora?
E se eu cair? Eu se eu correr?
Quando, meu Deus, vou morrer?
Falar é tão fácil pra quem se mantém distante
Mas só quem sabe o tamanho do sofrimento
É o pobre do andante
Com seu andar cansado e lento.