“Hahahahahaahahaha” é o que respondo quando ela me pede pra ter modos.
Fala sério, eu estive quieta a semana toda, não fiz nada que minha mãe não
faria, e agora, justo agora, com aquele corpo pronto pra ser judiado ali na
sala, ela quer que eu me contenha? Que graça isso tem?
Volto pra sala, já planejei tudo: vou sentar, contar até três, se ele
não me beijar eu faço isso por ele. Ele está na cozinha pegando mais uma
cerveja. Então é para lá que eu vou. Meu olhar mudou, ele percebe, estou sentindo
cheiro de medo no ar. Calma gatinho, não vou te machucar... Ok, talvez só um
pouquinho.
Rá! A presa caiu na armadilha, agora tudo sai como eu esperava, como eu
planejava, eu sou a líder da situação, eu mando, finjo que obedeço, me mantenho
firme, não me entrego, torturo, faço ele se ajoelhar, pedir clemência, ele diz
coisas desconexas, isso é sintoma de felicidade (ou de insanidade) eu dou a
minha clássica risada debochada, meu ar de indiferença é mais forte que eu e eu
não sei mentir, isso não quer dizer que eu tenho gostado menos, é só o meu jeito.
Ele quer dormir, eu quero passar a noite acordada. Risco o nome dele da minha
lista de “possíveis ex-maridos”. Ele acorda, está com a voz doce e melosa, isso
é um mau sinal, diz que quer me ver de novo, que vai me ligar amanhã. Eu dou
meu número errado, porque não acho que vá dar certo, não acho que tenhamos
futuro. Meu coração nem disparou. “É como comer chuchu, eu não gosto, só como
porque sei que tem 90% de água”.