domingo, 2 de outubro de 2011

Digam adeus...

Estou em momentos tensos. Contar até mil e exercícios de respiração já não me adiantam. Sou uma bomba relógio em contagem regressiva para explodir.

Me cansei de tanto fingimento, tanta falsidade, tanta pressão psicológica, tanta regra pra cumprir, se eu não me desvencilhar disso de algum jeito vou acabar louca.

Começo pondo fim em tudo, as reviranças da minha vida, vou pô-las todas num armário, fechar bem as portas e tele transportá-lo para o Alasca.

Os papéis de finanças, contratos, resumos pro vestibular, cartas, bilhetes e recados vou picar todinhos, um a um, jogar para o alto e assisti-los caindo em câmera lenta, que diversão.

Com tudo que está trancado na minha garganta há tempos vou gritar, dizer verdades, algumas mentiras, dar a culpa que eu carrego para outras pessoas, quebrar alguns vasos de flores na parede e pronto, tudo ficará bem nesse quesito.

Já tudo aquilo que tive que ouvir calada e concordar, vou renegar, discordar, me impor, falar o que vier à mente, sem pudor! Não perdôo mais ninguém, não sinto pena de ninguém. Perdi meu bom senso, minha meiguice e toda a minha educação em alguma esquina dessas, mas nem me importo muito em não encontrar. Que se dane! Que se dane! Que se lixe! Não me importo! Não quero mais!

Nas lembranças vou e atear fogo e rechear com muito álcool.

Tudo que me incomoda e me perturba, ou que me magoa e me irrita está suspenso, está excluído, bloqueado, picotado, rasgado ou queimado.

Despeçam-se dos meus bons modos, do meu sorriso convencional, da minha risada comportada, do cabelo alinhado. A partir de hoje não sei mais regras de etiqueta, só vou sorrir quando tiver vontade, vou rir como se estivesse num galpão e andar descabelada! Vou ser cruel, impiedosa, desavergonhada!

Tchau...

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Duplamente

Essa noite voltei no tempo. Voltei ao dia em que fomos apresentados.

Lá estava eu, de longe pude ver meu sorriso que nem cabia mais em mim, eu ria demais, brilhava demais, sentia demais. Eu fui sempre mais. E tu, pra mim, era tudo e muito mais. Só então me lembrei de tudo que fizeste.

Meu primeiro impulso foi dizer a mim mesma para sair dali, desistir de ti, nunca te conhecer e, portanto, nunca sofrer. Mas me dei conta do quão importante essa história era na minha vida e do buraco enorme que ficaria em mim caso eu apagasse ela completamente... Apertei control+Z e desfiz minha última ação.

Ainda impulsiva, decidi me chamar num canto para uma conversa em particular. Contei-me cada detalhe do que estava por vir, as mentiras que tu me contarias, o dia em que tu me trairias, as nossas brigas, tudo, me contei tudo. Depois me disse o que eu deveria fazer exatamente para que nosso relacionamento desse certo dessa vez. Mas uma estranha sensação tomou conta de nós duas: o que eu sou e o que eu era, algo como medo de não dar certo e um medo de dar certo, ao mesmo tempo. Desfiz minha última ação novamente.

Por fim, resolvi não fazer nada e rever tudo que passamos como se fosse um filme. Revi tuas piadas sem graça, o teu jeito engraçado, tuas danças sem compasso, todas as vezes que fugimos do mundo e nos refugiamos em nós mesmos, nossas conversas, as lutas pelo melhor travesseiro, as quais eu sempre ganhava, as vezes que assistimos desenho animado de madrugada, quando corremos pelados numa estrada deserta. Vivi tudo de novo e só posso dizer que já me apaixonei por ti duas vezes.

Te espero ansiosa amanhã para nos apaixonarmos novamente.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Vem

Vem, eu já te espero há tanto tempo. Meu corpo está com o perfume que tu preferes, eu acho que tu preferes, minhas roupas todas são do teu gosto. Arrumei a casa, arrumei o quarto, arrumei a cama. Tudo espera por ti. Tem uma luz que me aquece por dentro, essa luz tem teu nome. Há no forno um bolo que eu fiz especialmente pra ti. Troquei as toalhas e as roupas de cama. Dei banho nos gatos e nos cachorros, todos esperam por ti. Já molhei as plantas, não há mais nada a fazer. Só esperar por ti. Pus a música que tu gostas num volume apropriado. Tem um porta-retratos vazio esperando em cima do armário por uma foto tua. O telefone me confessou que há tempos anseia uma ligação tua. Fiz uma limpa no meu guarda-roupa e agora tem um lugar para as tuas camisas. Ontem mesmo fui ao supermercado e comprei coisas de homem pra tu te sentires mais em casa. Tu gostas de salame? Eu comprei salame. Ah! Vinho eu comprei também. Aluguei uns filmes de terror na locadora, acho que tu vais gostar.

Sinceramente, a casa toda, inclusive eu, espera por ti. Pelo nosso encontro. Pelo nosso primeiro encontro. Tomara que tu chegues logo, para que possamos nos conhecer e para que, enfim, tu possas preencher cada pedacinho que eu reservei e arrumei com tanto carinho pra ti. Vem!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Te remendando

Não há sentimento mais angustiante do que ver uma amiga sofrendo de um amor rasgado, descosturado e não poder fazer nada.

Quem nunca sofreu de amor considere-se de castigo por ter mentido, pois todos nós já provamos dessa dor tão amarga e tão grande que fica difícil de engolir. O que fazer com a fratura exposta que há no coração de alguém que eu amo tanto? Não sou médica, não sei que remédios receitar. Não sou costureira, não posso simplesmente pegar linha e agulha e remendar aquele enorme rasgo. Não sou nada profissional, nem tenho receitas miraculosas. Infelizmente.

Dói-me dizer que esse desconforto é irremediável, não se cura, acostuma-se com ele. Nunca vai embora, permanece em nós por meio de dores, lembranças e lágrimas. Um dia de tanto se fazer presente cansa-se, perde as forças, dorme e quando acorda passou-se tanto tempo que a ferida secou, ele não nos perturba mais.

O tempo cura tudo, e não é pecado sentar e esperar. Enquanto isso a vida continua, outras pessoas aparecem, outras desaparecem. Amor quando acaba dói, mas não mata. Já dizia Caio Fernando de Abreu: “Sem apego. Sem melancolia. Sem saudade. A ordem é desocupar lugares. Filtrar emoções." Não preciso dizer mais nada, só que te amo.

sábado, 13 de agosto de 2011

Alma

É nos bares, boates, pubs e afins que a alma se deixa levar. Despe-se por inteiro. O clima é propício, a luz é baixa, no ar o cheiro é de perfume amadeirado misturado com tabaco, a música alta faz arrepiar todinha a alma safada.

Seu jogar de cabelos é sensual. Seu morder de lábios é sensual. O movimento dos cílios é sensual. Sua dança é quase um Strip-tease.

A alma é abusada, a noite é dela, só dela e mais ninguém. Ela conquista cada canudinho do bar, os seguranças, os convidados, as portas. Tudo é dela. No canto, bem discreto, há um placar: Minha alma versus o resto do mundo inteiro. Advinha quem tem mais pontos...

Não sente fome, não sente frio, só sente sede, uma sede do tamanho do mundo. Quer beber os teus pensamentos mais íntimos, os teus medos, os amores que não deram certo, as cóleras, as cólicas, as feridas abertas, tudo que for teu ela quer provar. É melhor se cuidar.

A alma é quase uma hipnose, quase uma miragem. Faz pensar que o que caminha em tua direção é um puma preto. Não é, é ela. Faz imaginar uma música baixinha tocando com uma voz muito doce. Não é, é ela. Faz de conta que sabe fazer efeitos especiais. Não sabe, são os defeitos especiais dela.

Se abre a boca só fala palavras pervertidas: delícia, champanha, aberto, fechado, amasso, perigo, frescor...

O nome dessa tão incrível alma? Maria, Joana ou Tibúrcia talvez. Não sei, ela não se apega a detalhes pequenos.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Dia dos namorados

Pânico geral, mulherada! Final de semana do dia dos namorados chegando. Separem 3 kg de chocolate ao leite pra mim e se disponham a ouvir, com atenção, minhas lamentações. Dispenso comentários e pensamentos de mulheres solteiras bem resolvidas sobre auto-estima, segurança, maturidade e essas bobagens todas, não estou nem aí, quero mais é reclamar e me entupir de chocolate!

Não preciso de um namorado pra viver. Sei que essa data é mais comercial do que comemorativa. Também sei que a maioria dos namorados que vão comemorar esse dia não estão tão bem nos seus relacionamentos e que talvez até eu seja mais feliz do que eles, mas isso parece discurso de consolo, não parece? Então vamos deixá-lo de lado. Vamos ao que interessa...

Vantagens: tenho bem menos privações, não devo satisfação de nada à ninguém, minha liberdade anda lado à lado com minhas vontades, meu pensamento não se ocupa de desconfianças, preocupações, intrigas, fofocas e nem saudade. Meus finais de semana são de todo modo os melhores e mais divertidos possíveis, não preciso me contentar com filmes e pipoca no sábado á noite, pelo contrário. Tenho os modos que quero e sem preocupações com ocasião, julgamentos ou qualquer outro empecilho. Falo quantas bobagens e, eventualmente, palavrões vierem à minha cabeça, não divido minha vida com ninguém, nem sequer compartilho, danço freneticamente sem ouvir comentários pejorativos e, o melhor de tudo, tenho todos os dias do mês reservados, única e exclusivamente, para mim.

Desvantagens: na minha cama a única coisa que me faz companhia são meus três milhões de travesseiros e, de vez em quando, minha bolsa de água quente, a única pessoa que segura a minha mão é a minha endocrinologista quando vai medir minha pressão, não ganho flores, nem cartões apaixonados, muito menos bombons. Também não tenho um par para dançar de rostinho colado, não recebo ligações surpresa, nem tenho beijos roubados, meu coração não bate mais forte por ninguém e o coração de ninguém bate mais forte por mim, coisas pequenas não me fazem viajar no tempo através de lembranças, perfumes masculinos não me causam borboletas no estômago, não escuto Eu te amo ou Sinto a tua falta porque amiga dizendo isso não conta e, o pior de todos, passo sozinha o dia dos namorados.

Não me crucifiquem, eu também não passo com ninguém o resto dos 364 dias do ano, mas o dia dos namorados serve exatamente pra me lembrar disso...

Apesar de tudo, não penso em me propor metas e objetivos para o ano que vem ter mudado essa situação na minha vida, acho extremamente engraçado fazer piada do campo emocional da minha vida “forever alone”, vai dizer que não? Tenho ótimos planos para o dia fatídico, vai ser divertido, eu garanto. Reclamar é de praxe, dia dos namorados então... Não podia deixar passar em branco né? A minha única exigência é que criem um dia para comemorar o dia dos solteiros!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

UMBIGO

Ainda estamos interligados,

Talvez pelos olhos, talvez pelo umbigo.

É notável, visível a olho nu.

Me diga tu, que não somos nada além de amigos.


Voltar a ser como éramos antes

Um casal embriagado

De uma alegria insustentável

Uma dupla, confidentes e amantes.


É uma proposta irrecusável!

Mas o que importa? Não estamos mais juntos.

Eu não fui o que tu esperou.

Eu chorei a dor de muitos.


Lembrar o que se foi e imaginar como teria sido.

As frases ditas e as não ditas.

As histórias pra contar aos amigos mais íntimos.

Um brinde a um futuro que não tivemos.


Éramos apaixonados por nós mesmos,

E agora temos olhos acostumados um ao outro.

Sem tempo, não cabemos no mesmo espaço,

Sem novidade, sem nada novo.


Vê como sou repetitiva?

De todas que já foram tuas espero ser a mais querida

E prometo te levar pra sempre

Na alma, no coração e no umbigo.