segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Faminta- parte II



“Hahahahahaahahaha” é o que respondo quando ela me pede pra ter modos. Fala sério, eu estive quieta a semana toda, não fiz nada que minha mãe não faria, e agora, justo agora, com aquele corpo pronto pra ser judiado ali na sala, ela quer que eu me contenha? Que graça isso tem?
Volto pra sala, já planejei tudo: vou sentar, contar até três, se ele não me beijar eu faço isso por ele. Ele está na cozinha pegando mais uma cerveja. Então é para lá que eu vou. Meu olhar mudou, ele percebe, estou sentindo cheiro de medo no ar. Calma gatinho, não vou te machucar... Ok, talvez só um pouquinho.
Rá! A presa caiu na armadilha, agora tudo sai como eu esperava, como eu planejava, eu sou a líder da situação, eu mando, finjo que obedeço, me mantenho firme, não me entrego, torturo, faço ele se ajoelhar, pedir clemência, ele diz coisas desconexas, isso é sintoma de felicidade (ou de insanidade) eu dou a minha clássica risada debochada, meu ar de indiferença é mais forte que eu e eu não sei mentir, isso não quer dizer que eu tenho gostado menos, é só o meu jeito. Ele quer dormir, eu quero passar a noite acordada. Risco o nome dele da minha lista de “possíveis ex-maridos”. Ele acorda, está com a voz doce e melosa, isso é um mau sinal, diz que quer me ver de novo, que vai me ligar amanhã. Eu dou meu número errado, porque não acho que vá dar certo, não acho que tenhamos futuro. Meu coração nem disparou. “É como comer chuchu, eu não gosto, só como porque sei que tem 90% de água”.

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