Um beijo cheio de saudades ao invés de “prazer em te conhecer”, uma
postura de casal que soou muito natural, mesmo sem sermos um casal, um
interesse nos teus interesses, muitos mimos, palavras gostosas de se dizer,
cenas comuns como sentar no sofá de pernita cruzada e mãozita no ombro
assistindo novela e comentando os livros da estante e os filmes recém lançados,
um cigarro aqui, outro ali, uma divisão de bens, os teus bens, comigo. Achei
tudo muito sexy.
Teu estilo mendigo: camiseta cinza, chinelo havaianas, cabelo molhado,
calça jeans(sem cueca), totalmente despretensioso, sem pressa, sem afobamento,
seguro de si, nu e cru, com um olhar magnético, me espreitando, me esperando
vacilar, ou dar uma brecha, pra poder me atacar. Achei tudo muito sexy. E gostoso,
diga-se de passagem.
Eu, que sempre assumo a posição de liderança, estava entregue, o riso
nervoso, apertando o lábio inferior, dedos impacientes, os pés inquietos que
dançavam balé maquinalmente, meus olhos suplicando pelos teus, confesso: não
queria deixar de te olhar por dentro um minuto sequer, se tu te viravas eu
tinha que, com muito esforço, me conter pra não te acompanhar e assim continuar
te mirando. Estava faminta de ti, tudo teu parecia tão apetitoso, mas em nome
dos meus bons modos me controlava, não te atacava, permanecia sentada, intacta,
esperando pelos estímulos teus. Em nome dos bons modos, da boa conduta e
daquela frase manjada que diz: a primeira impressão é que fica. Não penso que
tu gostarias de conhecer uma leoa faminta, me contive então.
Eu tentava parecer normal, e tu eras sexy todo o tempo, mesmo quando
não querias.
“Terra à vista”. Pedaços inéditos de nós que descobrimos depois da meia
noite, à meia luz. Não quis mais disfarçar: eu estava no céu, ou não, talvez
não fosse o céu. Não sei o que era, mas era bom. Não olhava mais nos teus
olhos, mirava dentro de ti, vi coisas lindas, vi coisas tristes, vi feridas que
te inquietavam, tratei de não olhar mais. Percorri todos os teus caminhos, me
abusei de ti, te arranquei suspiros, te deixei me judiar, sorri enfim, quando
tudo acabou. Eu estava feliz, por ti, por nós, mas mais do que tudo, por mim.
Às vezes te olhava e te sentia frágil, um anjinho, dormindo, de olhos
fechados sonhando com coisas que os gatinhos filhotes devem sonhar. Tinha ganas
de te alimentar, zelar teu sono, te cobrir com a coberta, cuidar de ti, te
fazer cafuné até que adormecesse. Mas olhando melhor, via um endiabrado, cheio
de malícia, judiado pela vida, com marcas e feridas, um olhar pesado, cansado
de ver o mundo, quando tu me miravas com esses olhos nebulosos tinha a
impressão que tu me conhecias inteira, todos os meus segredos e truques, e
nessa hora tinha ímpetos de me doar pra ti, pra que tu me guiasse, me levasse
contigo, me ensinasse o que eu não sei, me desse colo e me fizesse dormir.
Desde esse dia, tenho um sorriso novo, natural e insistente, mesmo
braba ando sorrindo. Criei alma nova, pele nova, rejuvenesci e tantas outras
metáforas que usaria para expressar o quanto me fizeste bem. Não sinto tua
falta com dor, sinto com prazer, quando me lembro de ti não fico melancólica ou
saudosa, fico extasiada, me arrepio.
Te espero.
Nenhum comentário:
Postar um comentário